terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sub-quê?

O Correio da Manhã (CM), não se distingue no panorama jornalístico português pelo brilhantismo da sua secção económica. Mas desta vez, o Thinkmanagent presta uma homenagem sincera ao jornal pela produção deste artigo. Na revista que acompanhava o CM do dia 30 de Dezembro encontrei esta pérola.

O autor do texto (Miguel Alexandre Ganhão, Editor executivo do CM), destaca a crise do Subprime como facto internacional do ano, num título apropriado: "Um dia a casa vem abaixo".

A explicação é clara, simples e fácil de entender. O exemplo que é introduzido torna evidente o efeito "bola de neve" que deu origem à crise. Assim, um título alternativo poderia ser "Subprime para Leigos" ou "Sub-quê?"


Aqui está o texto na íntegra.


Facto Internacional do Ano: Crédito
Um dia a casa vem abaixo

Joe Cotton trabalhava na construção civil. Com mulher e três filhos, mudara-se para a Califórnia depois da tragédia do 11 de Setembro de 2001. Com um emprego certo, aproveitou a conjuntura económica favorável criada pela Reserva Federal Americana para contrariar os efeitos dos ataques terroristas. Em 2003 os juros eram baixos (cerca de um por cento) e os bancos concediam crédito para comprar o que se quisesse.
Cotton comprou carro, casa e mobília com empréstimos bancários. Utilizava o cartão de crédito diariamente. Em 2006, o sector da construção entrou em crise e Joe perdeu o emprego. Deixou de pagar o Visa, deixou de pagar a prestação da casa. No início de 2007 colocou o imóvel à venda... o valor da casa tinha caído para metade. Joe Cotton entrou no American Home Mortgage e disse ao gerente que não podia pagar mais o empréstimo que o banco lhe tinha concedido.Por toda a América milhares de famílias seguiram o percurso da família Cotton. Milhões deixaram de pagar. Em Julho, as estatísticas davam conta de números preocupantes em relação ao chamado “crédito malparado”. Os bancos não tinham dinheiro para pagar aos seus clientes. No dia 9 de Agosto, vários fundos de investimento declaram-se incapazes de fazer face ao volume de resgates que tinham, a Wall Street começaram a chegar os primeiros sinais de que a crise era grave. Para dispersar o risco, os bancos tinham revendido os créditos concedidos a clientes com problemas de incumprimento a vários fundos de investimento, que os repassaram para as bolsas mundiais.Todos procuravam liquidez... e ninguém tinha o suficiente para emprestar. O sistema financeiro esteve à beira do colapso. Em pânico, os banqueiros viraram-se para os bancos centrais que fizeram o que era necessário; só o Banco Central Europeu (BCE) injectou no sistema financeiro 155.000 milhões de euros entre os dias 9 e 11 de Agosto.A Reserva Federal Americana (FED) foi obrigada a baixar os juros, depois de 17 aumentos consecutivos do preço do dinheiro. Apesar da pronta reacção dos vários bancos centrais, um pouco por todo o Mundo, várias instituições financeiras disseram não ter condições para pagar aos seus clientes. Um desses bancos foi o inglês Northern Rock, o quinto do Reino Unido em termos de empréstimos hipotecários que, em Setembro, teve de recorrer à reserva de emergência concedida pelo Banco de Inglaterra, o que suscitou nos seus clientes uma corrida ao levantamento de depósitos.Numa única sessão bolsista, o banco perdeu 35 por cento do seu valor. Milhares de depositantes concentraram-se em frente das várias agências bancárias, obrigando o Governo inglês a vir a público, garantir todas as poupanças dos clientes do Northern Rock.Em Portugal, o primeiro a reconhecer a gravidade do problema foi o presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Carlos Tavares afirmou : “não adianta esconder a cabeça na areia e dizer que não se passa nada. Temos um problema e é preciso saber a sua dimensão”. As palavras do “polícia da Bolsa” seguiram-se às notícias do encerramento de um fundo imobiliário gerido pelo Banco Português de Investimento (BPI) e à suspensão de três fundos geridos pelo BNP Paribas e comercializados em Portugal pelo Banco Best, Barclays e ActivoBank 7.Muitos outros fundos foram investigados pela CMVM, de modo a avaliar qual a sua exposição ao mercado “subprime” norte-americano. Os bancos aproveitaram a situação e subiram os ‘spreads’ do negócio em, praticamente, todas as vertentes. Os resgates de fundos aumentaram substancialmente, mas Vítor Constâncio veio acalmar o mercado. “Temos insistido bastante na necessidade de manter a estabilidade financeira e a rentabilidade e solidez do sistema bancário”, referiu Constâncio, acrescentando que, “momentos como este provam a importância desse objectivo”.As contas aos efeitos da crise do “subprime” ainda não chegaram ao fim. Mas, para o que der e vier, cinco grandes bancos centrais fizeram um pacto de actuação conjunta, para prevenir novos “sustos” no crédito hipotecário.

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