sábado, 29 de março de 2008

Casamentos "mais transparentes"


Durante a semana que passou foi noticiado que a Direcção Geral de Impostos estaria a enviar cartas aos contribuintes recém-casados pedindo a sua resposta, ao abrigo do dever de colaboração com a Administração Fiscal e no prazo de 15 dias, a um vasto conjunto de informações relacionadas com a realização do seu casamento. O incumprimento desta obrigação leva a que seja instaurado contra os casais um processo de contra-ordenação fiscal punível com uma coima que varia entre os 100 e os 2500 euros.

Se por um lado é absolutamente aceitável e necessário o combate à evasão fiscal em todo e qualquer sector de actividade, por outro não deve ser exigível aos casais uma contabilidade organizada do casamento, que vêem de certa forma a sua privacidade violada.
Esta medida pretende ser de um rigor tal que se destaca o pormenor e a extensão das questões colocadas aos casais obrigando-os a prestar informações sobre se existiu ou não outro casamento ou outro evento no mesmo dia e lugar que o seu, o número de convidados e qual o valor cobrado por cada um deles; se o vestido da noiva ou o fato do noivo foram oferecidos e, se sim, por quem, e quanto pagou o oferente; e ainda como foram pagos todos os diversos serviços prestados, desde o local do Copo d’Água, floristas, animadores, fotógrafo, etc.

Há que ter noção dos limites daquilo que é aceitável. A fronteira da vida íntima das pessoas não deve ser ultrapassada, pelo que se levantam inúmeras dúvidas sobre a legitimidade e eficácia de medidas como esta.

Imaginemos esta medida aplicada às formalidades de um funeral. Pergunto se ainda cabe na cabeça dos portugueses a ideia de um Estado sinistro…

quinta-feira, 20 de março de 2008

O papel das instituições de ensino superior na integração dos jovens no mercado de trabalho

Importante. Sem dúvida que sim. Uma instituição de ensino superior tem um papel fundamental na integração de qualquer jovem no mercado de trabalho. Mas não é tudo. Competir hoje no mercado de trabalho é muito mais do que ostentar uma boa média e uma universidade de prestígio como cartão-de-visita. Porque as pessoas não são todas iguais, as empresas consideram outras características além da universidade.


Ser um finalista do ISCTE é diferente do que ser finalista de outra instituição de ensino superior. Porque o ISCTE é uma marca instituída no mercado. Uma empresa sabe o que vai encontrar quando lê num CV as cinco letras mágicas. I-S-C-T-E significa hoje mais do que um curso, um conjunto de competências raras no mercado de trabalho: espírito de equipa, entreajuda, persistência, companheirismo, sentido crítico, empenho. A Universidade continua, portanto, a ser bastante importante.


Contudo, as empresas procuram Hoje além do percurso académico, outro tipo de pessoas. Quais são os meus pontos fortes? Sou pró-activo e aberto ou a minha atitude é mais individualista? O que faço nos tempos livres? O que aprendi fora da Universidade? Fiz Erasmus e alarguei horizontes ou optei por viver uma existência tranquila em Portugal? Envolvo-me na vida académica da minha universidade ou passo mais ou menos indiferente ao que está à minha volta?


A Universidade de onde venho mostra onde estou inserido mas não mostra quem eu sou. É no cara-a-cara das entrevistas que o candidato se revela. Ali, o entrevistador já leu o seu CV e já sabe de onde vem e por onde tem andado. Avalia-o. Cada frase é objecto de análise. Na sua frente está um produto que tem de se vender. Se conseguir, provou três coisas: conhece-se e por isso está confiante, é um bom comunicador e consegue pensar numa resposta estruturada às questões que lhe são colocadas e, por último, está motivado para a empresa a que se candidatou. Outras capacidades são testadas nas fases seguintes: testes psicotécnicos, dinâmicas de grupo e case-studies ajudam a empresa a perceber se o candidato pensa de forma criativa, trabalha em equipa e se sabe aplicar o que aprendeu durante o curso em situações imprevistas.


Uma vez admitido, nada disto interessa. Os testes de recrutamento são agora irrelevantes. O novo colaborador da empresa começa do zero. Esta é a fase mais importante da sua integração no mercado de trabalho e é ele que a controla. O que tem de provar? Tudo. Um recém-licenciado é apenas uma promessa de bom desempenho. Tem de consumar objectivos, alcançar resultados. Cumprir ou exceder expectativas: é disso que é feito o sucesso. O seu caminho depende apenas dele próprio. Dia-a-dia, na qualidade do trabalho e no convívio com os colegas, no equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e na dedicação ao papel que desempenha na organização, ele tem de fazer a diferença. E isso só depende dele.