quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Millennium BPI, uma realidade ou ficção?


Semanas depois de o BPI (Banco Português de Investimento) ter lançado uma proposta de fusão com o BCP (Banco Comercial Português), a questão paira ainda no ar.

Antes de mais importa explicar que não estamos a falar de uma OPA mas sim de um processo de fusão, um projecto do BPI que envolve uma proposta de troca de acções e não de aquisição.

Se o BCP aceitar esta proposta, vai nascer um novo banco em Portugal, o Millenium BPI. Será, porventura, o maior banco nacional e o terceiro maior da Península Ibérica, a seguir ao Santander e ao BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria), com activos no valor de 130 mil milhões de euros, 1.500 balcões e 18.000 trabalhadores.
Ao avançar com uma proposta desta natureza, o BPI quebra o impasse que se vive no BCP há meses e que sofreu nas últimas semanas um agravamento com a divulgação de negócios polémicos envolvendo a instituição e membros dos actuais órgãos sociais. E contribuiu para focar a discussão num projecto de futuro. O presidente do BPI, Fernando Ulrich, evidenciou querer criar uma plataforma nova, com intervenção na Europa, África Lusófona, e dispondo de accionistas internacionais fortes, como a Eureko, La Caixa, Itaú, Allianz, e contando ainda com um grupo de investidores portugueses estratégicos, designadamente a Teixeira Duarte e a Caixa Geral de Depósitos. Cabe agora ao BCP a tomada de uma decisão final. Para o processo seguir em frente, é absolutamente essencial que os dirigentes dos dois bancos cheguem a acordo e que 75% do capital do BCP aceite a proposta. Mas há mais. A proposta do BPI tem como base a entrega de 0,5 acções da instituição que resulta da fusão por cada uma acção do BCP, ou seja, um indivíduo que tiver 5.000 acções do BCP ficará com 2.500 acções do Millenium BPI, mas este é um rácio de troca que poderá vir a ser alterado.

Seria tudo muito simples, mas obviamente que o projecto de fusão terá de obter luz verde da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários), já que ambas as sociedades estão cotadas na Bolsa, e esperar por um prenúncio por parte do Banco de Portugal, da Autoridade da Concorrência e ainda dos accionistas.
Havendo lugar à concretização deste processo de fusão, o BPI afirma não antever razões para o encerramento de balcões, a não ser pontualmente, porque acredita que haverá um aumento de clientes e de receitas. No que concerne aos trabalhadores, não avança com previsões mas admite não haver despedimentos na área comercial.

A sensação que nos é dada, é a de que tudo deverá ficar neutral. No entanto, a médio-longo prazo esta operação não se concretiza sem se exigir mudanças, e esta é uma questão que releva para a preocupação de todos os clientes; Depósitos, Transacções, Empréstimos, Cofres, Câmbio, o que esperar das condições e preços de todos estes serviços que virão a ser praticados por esta nova instituição? Este é um caminho ainda por explorar…

sábado, 10 de novembro de 2007

O que é o Tratado de Lisboa?


A pergunta assombra muitos de nós, comunidade académica para quem as burocracias da UE é aborrecida confusa. A resposta seguirá dentro de momentos.

Primeiro que tudo, este tratado deve ser entendido numa perspectiva macro e não exactamente na sua essência e conteúdo. O Tratado de Lisboa reconcilia a Europa consigo mesma, depois do "Não" no referendo à Constituição Europeia da França e da Holanda.

As decisões tomadas são, uma vez mais, de carácter burocrático de funcionamento interno da UE. Mas o consenso, em si, é mais importante do que tudo o resto. No entanto, aqui ficam as principais medidas:


1. Uma decisão será adoptana no Conselho Europeu se cumprir dois critérios: o apoio de 55% dos estados-membros (15 em 27) em representação de pelo menos 65% da população total da UE

2. Em vez da unanimidade tradicional, as decisões passam a ser tomadas por maioria qualificada
em cerca de 40 áreas, sobretudo, em assuntos de carácter policial, de imigração e de relações externas.

3. Conselho e Parlamento Europeu devem estar de acordo na maior parte dos processos legislativos.

4. A sactuais presidências semestrais da UE serão modificadas de acordo com uma decisão a tomar pelo Conselho , que deverá prever equipas de três Estados-membros por um período de 18 meses, as quais assegurarão entre elas a presidência do Conselho Assuntos Gerais e dos Conselhos de Ministros sectoriais da UE (Economia e Finanças, Agricultura, Justiçã e Assutnos Internos, Ambiente, entre outros).

5. A partir de 2009, haverá um presidente do Conselho Europeu eleito por 2.5 anos, pelos seus membros (chefes de Estado ou de Governo da UE= mas não exercerá funções executivas.

6. As reuniões do Conselho de Relações Externas (ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27) passam a ser presidadas pelo Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança (novo cargo)

7. O Parlamento Euoropeu vê diminuído o número total de membros de 785 para 751 e reforçado o seu papel, intervindo mais na tomada de decisões comuns (juntamente com o Conselho Europeu).

8. A Comissão Europeia terá, a partir de 2014 um número de comissário igual a 2/3 do número de Estados-membros, em vez do actual sistema onde cada país tem o seu comissário.

9. Os Estados-membros passam a designar um comissário para Bruxelas com base numa "rotação igualitária", isto é, cada parceiro ficará fora da Comissão uma vez em cada três mandatos de cinco anos.

Como podemos ver, as decisões são de carácter meramente administrativo mas respondem à nova realidade da UE a 27. Agilizam o sistema de tomada de decisões e cumprem os objectivos de mais democracia, maior transparência, maior afirmação externa e melhor funcionamento interno. Sendo conseguido durante a presidência portuguesa da UE, este acordo reafirma o papel de Portugal como negociador e conciliador de interesses divergentes. A diplomacia portuguesa está, portanto, de parabéns.

O novo acordo será oficialmente assinado a 13 de Novembro e rectificado por todos os Estados-membros até à Primavera de 2009. Ficará conhecido como o Tratado de Lisboa.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Mourinho

Mourinho sai do Chelsea. Mas fica. Tal como ficou no FC Porto. Porque permanecem as conquistas. No FC Porto um jovem treinador adjunto recentemente promovido a principal ousa dizer que será campeão e ganha tudo em dois anos: dois campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal, uma Supertaça, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões. Dando uma visibilidade ao futebol portugês de que este já se tinha esquecido. O próprio papel de treinador foi reformulado. Deixou de ser apenas o que recebe as culpas das derrotas. O treinador é o visionário dos triunfos, o estratega das conquistas.

Vai para Inglaterra. Segundo a imprensa local, não teria hipótese numa liga competitiva e com os níveis de pressão a que estão sujeitos os seus intervenientes. O clube não é de topo. Nada que o assuste. Com Mourinho não existem estrelas no grupo. A estrela é o grupo. O grupo deve funcionar harmoniosamente sob o comando do líder. Ele tem o conhecimento técnico e a capacidade para motivar todos para o mesmo objectivo: vencer.

No campo da motivação mourinho joga fora e em casa.

Em casa porque une o seu grupo de maneira a que, mais do que jogar para vencer o jogo, a equipa está em campo para se vencer a si própria, para ultrapassar os seus limites e, acima de tudo, para provar a si mesma que é a melhor.

Joga fora porque a motivação dos seus jogadores é, também, a intimidação dos adversários. O jogo começa na conferência de imprensa que o antecede e só termina na entrevista posterior. Os famosos "mind games" são, também eles, uma técnica de liderança. Porque a melhor defesa é o ataque. Há quem pense que a sua atitude é um pouco pretensiosa ou arrogante. Mas não é. A diferença entre auto-confiança e arrogância é que a auto-confiança é realista e tem conteúdo e a arrogância não resiste ao primeiro confronto. Assumir que, mais do que querer ganhar, se vai ganhar de facto, é deixar dois recados: por um lado a concorrência não terá qualquer hipótese, por outro, o líder confia no grupo e isso só sucederá se o grupo se mantiver coeso e forte e for, realmente, uma equipa. Uma equipa especial.

sábado, 30 de junho de 2007

Gestão pura

O dia-a-dia é um permanente acto de gestão. Vejamos um pequeno exemplo disso mesmo.

Um Administrador recebeu um convite para assistir a um concerto com a Sinfonia Incompleta de Schubert; como esteve impossibilitado de comparecer, deu o convite ao seu Gestor mais aplicado.

Na manhã seguinte, quando o Administrador lhe perguntou se tinha gostado do concerto, ao invés de comentários sobre o que ouvira, recebeu o seguinte relatório.

CIRCULAR INTERNA Nº. 13/2003
De: Gestor de Organização, Sistemas e Métodos
Para: Direcção
Ref.: Sinfonia Incompleta

1 - Por um período considerável de tempo, os músicos com o oboé, não tinham nada para fazer. O seu número deveria ser reduzido e o seu trabalho redistribuido pelos restantes membros da orquestra, evitando-se assim esses picos de inatividade;

2 - Todos os violinos da primeira secção, doze ao todo, tocavam notas idênticas. Isso é uma duplicação desnecessária de esforços e o número de violinos nessa secção deveria ser drasticamente reduzido. Se for necessário um volume de som mais elevado, isso pode ser obtido através do uso de um amplificador;

3 - Muito esforço foi dispendido ao tocarem semitons. Isso é um preciosismo desnecessário e seria recomendável que as notas fossem executadas no tom mais próximo. Se isso fosse feito, poder-se-iam dispensar os profissionais e utilizar estagiários;

4 - Não há utilidade prática em repetir com os metais as passagens já tocadas pelas cordas. Se toda esta redundância fosse eliminada, o concerto poderia ser reduzido de duas horas para apenas vinte minutos;

5 - Enfim, resumindo as observações dos pontos anteriores, podemos concluir que se Schubert tivesse dado um pouco de atenção a estes pontos, talvez tivesse tido tempo para acabar a sua sinfonia incompleta.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Universidade de Aveiro no Second Life

Embora o meu propósito neste blog não seja apenas falar do Second Life, plataforma que já expliquei no meu último post, a verdade é que o acaso proporcionou que mais uma vez aborde o leque de opções que este "jogo da vida real" abre no nosso dia-a-dia.

Segundo uma notícia da revista Exame, parece que a incursão no Second Life não se limita a empresas que desejam promover os seus produtos ou a políticos que desejam alargar a sua campanha ao mundo virtual. Agora, a construção de edifícios, a concretização de conferências e seminários e muito mais alarga-se também às Universidades de todo o mundo: mais de 70 já têm um clone seu no Second Life, à disposição de qualquer um, abertas 24 horas por dia.

Em Portugal, a pioneira é a Universidade de Aveiro. O projecto está a ser desenvolvido numa ilha do Second Life que é dedicada a projectos educativos, contribuindo para que cada vez menos plataformas como esta deixem de ser consideradas com meras fontes de vício e passem a ter fins verdadeiramente pedagógicos.

Uma vez que no meu último post não tive oportunidade de explorar em termos conceptuais o alcance da presença de uma entidade no Second Life, fá-lo-ei agora.

Antes de mais, uma grande vantagem do Second Life é o seu baixo custo. Uma presença no Second Life está ao alcance de qualquer utilizador com acesso a um computador com internet, esteja em que parte do mundo estiver. Um estudante em França pode escolher que faculdade frequentar se quiser vir estudar para Portugal visitando a sua imagem virtual no Second Life. Pode assistir às conferências lá organizdas, pode passear pelo edifício (e este pode estar representado com maior ou menor fidelidade ao edifício real) e conhecer estudantes verdadeiros que por lá andem, envolvidos nas actividades virtuais da universidade.

Dificilmente uma campanha publicitária ou um website garante o mesmo.

Estar no Second Life é também um grande passo em direcção à internacionalização. É estar definitivamente presente na comunidade global, ultrapassando o contexto geográfico/económico/social ao partilhar o mesmo mundo/espaço que as suas congéneres internacionais: podemos ter Harvard ao lado da Universiade de Aveiro ou o MIT ao lado do ISCTE. Relembro que o utilizadores (mercado-alvo) facilmente acedem tanto a uma como a oura.

O Second Life promove, assim, o princípio do marketing por experimentação (com certeza que deve haver um termo técnico aplicável que desconheço neste momento), que permite ao utilizador/cliente não só experimentar como viver o produto antes de optar.

Por último, não posso deixar de comentar como uma fantástica vantagem do desenvolvimnto deste tipo de projectos numa universidade a injecção de dinâmica e empreendorismo que representam na vida académica da instituição. Representa tudo aquilo que uma universidade deve ter: cooperação entre professores e alunos, cooperação entre alunos dos vários cursos e uma oportunidade única de aplicação na prática de todos os conhecimentos que vamos adquirindo ao longo do curso.

Links externos:

Notícia da Universidade de Aveiro
Lista de Negócios e Organizações no Second Life
Site do Second Life

Joana Nicolau

quarta-feira, 9 de maio de 2007

O Líder Madeirense

Na última semana Alberto João Jardim venceu, mais uma vez, na Madeira. A eleição não deixou margem para dúvidas. O líder incontestado da região autónoma ganhou com uma larga margem de avanço sobre os seus adversários. O estilo arrogante e provocador não agrada a todos. Aliás, sejamos francos, às vezes incomoda.

Jardim é um líder. As declarações bombásticas personificam uma atitude que lhe trás votos. A cultura da “madeira contra o mundo” e dos “bastardos neo-colonialistas de Lisboa” personifica uma postura de rebeldia muito própria que agrada ao povo madeirense. As pessoas não querem ser esquecidas e, por isso, defendem a sua terra com unhas e dentes.

A isto acrescem os resultados. A Ilha que, com outro governo, seria menos rica, menos desenvolvida e menos importante para Portugal (basta lembrar o caso dos Açores) melhorou, ao longo dos anos, o seu nível de desenvolvimento. Os esforços de Jardim têm, de facto, dado frutos. Além do estilo, as pessoas olham à obra feita.

Justamente na projecção da sua obra, Jardim é mestre. Com uma relação de amor-ódio com a imprensa, o líder sabe projectar o que de bom vai acontecendo na sua ilha. Nas campanhas eleitorais desdobra-se em inaugurações e comícios e ataca, permanentemente, os obscuros interesses do Governo central que, nas suas palavras, se prepara para tomar de assalto a madeira e os madeirenses. De referir, aliás, que estas eleições foram uma resposta aos cortes no orçamento da região autónoma, impostos pelo governo de Sócrates. Descontente com a nova lei das finanças regionais, Jardim demitiu-se alegando que não tinha condições para exercer a sua função. Candidatou-se novamente ao cargo e, como vimos, venceu.

A pergunta parece óbvia: se não tem condições para exercer a função, porque se candidata novamente? Parece existir alguma contradição no seu comportamento, mas esta é uma jogada política brilhante. Jardim já percebeu que dificilmente terá as mesmas liberdades orçamentais de outros tempos. Assim, deixar passar esta lei sem provocar alguma instabilidade no continente seria perder credibilidade junto do seu povo. A sua demissão não serviu para protestar contra a nova lei. A sua demissão serviu, isso sim, para mostrar aos madeirenses que, mesmo na derrota, ele não desiste de os defender e, por isso, podem confiar nele. Está lá, na linha da frente e luta, como sempre lutou, por eles. Pode perder, vai perder… mas não vai perder sem lutar.

terça-feira, 1 de maio de 2007

segunda-feira, 30 de abril de 2007

O Desafio de Pina Moura

Joaquim Pina Moura afirmou há dias que foi convidado para presidente do conselho de Administração da Media Capital porque a espanhola Prisa lhe reconheceu méritos como gestor profissional.

Há quem diga que não há nada na nomeação de Pina Moura, pelo que se conhece um economista competente, que impeça a Media Capital de honrar a lei. Pela mesma linha se diz também que não consta que a Impresa, que detém a SIC, Visão e Expresso, do militante número 1 do PSD, Francisco Pinto Balsemão (co-fundador do PSD), seja acusada de fazer um jornalismo similar ao “Povo Livre”, do PSD.
Porém, sejamos sensatos.

A escolha de Pina Moura para presidir a Media Capital, a convite da Prisa, é uma notícia que preocupa. O ex-ministro do antigo Governo de António Guterres, que pouco depois de abandonar o Executivo, saltou para a liderança de uma das empresas que mais favoreceu enquanto governante (a Iberdrola), vai agora tomar as rédeas da televisão mais vista do País. Tenhamos medo.

O seu desplante é tal que admitiu ao Expresso que “o convite tem um pressuposto ideológico”. Tal afirmação não é surpresa já que competências técnicas para gerir uma empresa de media não são conhecidas a Pina Moura. Ele próprio admite conhecer mal o canal que se prepara para liderar.

Poder-se-ia supor então que a nomeação de Pina Moura se devia à sua mais fina inteligência. Tal até seria aceitável não fosse novamente a entrevista ao Expresso: “ninguém razoavelmente inteligente admitiria a existência de um “pressuposto ideológico”, coisa honesta mas algo burra. Falando-se em “pressuposto ideológico”, das duas uma, ou a Prisa tem em mente levar o mais ecléctico socialismo para a estação (seguindo uma política de distribuição dos lucros pelos trabalhadores e de não exploração dos estagiários); ou então quer pregar um sermão à redacção com as mais belas ideologias do Governo Socialista como que um Padre António Vieira com um diploma pouco credível emitido por uma universidade com não mais credibilidade.
Espera-se o resultado…
João Matos

domingo, 22 de abril de 2007

Administração Pública - Parte II

Imaginem-se gestores de uma qualquer empresa. Esta empresa é constituída apenas por dois departamentos com funções semelhantes.

Departamento A:
Bom desempenho
Pessoas a mais

Departamento B:
Mau desempenho
Pessoas a menos e pouco preparadas

A solução parece fácil: colocar as pessoas a mais do departamento A no departamento B. Se as pessoas estão a mais no departamento A é porque o seu desempenho não será afectado por elas, e, portanto, devem ser transferidas para um local onde acrescentem valor à empresa.

Outra questão se coloca: e se mesmo após esta mudança de departamento, o número de pessoas continuar a ser demasiado elevado para a empresa? A empresa só tem dois departamentos e nenhum deles precisa daquelas pessoas, pessoas que revelaram ser improdutivas e que estão na empresa apenas porque sempre lá estiveram. Mais uma vez a solução parece simples: despedir ou reformar essas pessoas.

Isto é exactamente o que se passa na Função Pública. Durante anos, a política de contratação de funcionários era decidida por leis que determinavam que, de tempos a tempos, deviam ser contratados funcionários novos para determinado Ministério. Isto fez acumular funcionários e decair a produtividade.

Sabemos que a produtividade marginal (a produtividade extra de cada funcionário) é decrescente e, a partir de certo ponto, prejudica mesmo a actividade de qualquer empresa.

Por exemplo, um serviço público necessita de 30 funcionários e tem apenas 10. A sua produtividade é, obviamente, muito reduzida. À medida que se contratam mais funcionários a sua produtividade vai aumentando, atingindo o seu ponto óptimo aos 30 funcionários. A partir daí, a contratação de funcionários começa a ser desnecessária e prejudicial.


Se o serviço só necessita de 30, porquê ter 31? E, uma vez contratado o 31.º funcionário, o que fazer com ele? As soluções simples de despedimento ou transferência, não são assim tão simples na Função Pública. O processo de despedimento é bastante complexo e moroso e, é preciso não esquecer, estamos a lidar com pessoas que necessitam do seu posto de trabalho para sobreviverem.
Esta é uma das explicações para o mau funcionamento de muitos serviços públicos e dá-nos uma lição importante: a gestão de recursos humanos (tantas vezes renegada para segundo plano nas organizações) tem de ser feita com rigor e critério, pois decide, a longo prazo, o futuro da organização e das pessoas que dela dependem.

Luís Martins

domingo, 8 de abril de 2007

A Consolidação Orçamental e a Utopia Fiscal.

Há cerca de um mês, tivemos uma boa notícia no que respeita ao comportamento das nossas contas públicas. O nosso défice de estimação, que havia nos últimos anos crescido o suficiente para a mãe Europa nos colocar no cantinho dos mal comportados, deu sinais de estar a regredir acima do projectado para este ano. Pois é, as ambições são agora mais altas estando o objectivo para este ano nos 3,3%, menos 4 pontos percentuais do que o previsto. Desta forma, com um pouco de sorte, deixaremos, ainda este ano, de levar com o discurso profilático do costume.

Claro que, dado que são boas notícias, facilmente são esquecidas ou então são maquilhadas por alguém com uma patologia repressiva, por forma a parecerem absolutamente banais.

No contexto desta diminuição, um senhor bastante baixo veio para a praça pública exigir uma diminuição imediata dos principais impostos, nomeadamente do IVA e do IRC, como reacção natural a um maior equilíbrio nas contas. Tudo muito agradável, muito prazenteiro para os ouvidos do cidadão comum, mas definitivamente não muito sensato.

Os resultados são bons, mas não se pode fraquejar agora. Ainda estamos longe de um comportamento óptimo. Se é certo que uma descida das taxas de IVA e IRC nos tornaria mais competitivos na atracção de investimento estrangeiro, é ainda mais certo que o nível de despesa pública ainda não permite tais devaneios. Seria um tiro no pé e uma anulação completa dos bons resultados e bom trabalho que se tem vindo a desenvolver, e se formos a ser realistas, uma eventual descida das taxas de IRC nunca nos tornaria competitivos face a alguns países que, efectivamente, as mantém muito reduzidas, como a Irlanda.
Para além do mais, países com taxas de IRC muito altas, tal como a Espanha (35%), mantêm níveis de competitividade altos com uma muito maior nível de tributação, pelo que o caminho não será obrigatoriamente a diminuição dos impostos.

O rumo a tomar deve ser o de continuar com a retenção orçamental, não caindo em facilitismos e usando os bons resultados como base motivacional para um cada vez melhor comportamento das finanças públicas, para o qual contribuirá, nomeadamente, uma aceleração no processo de reforma da função pública.

sábado, 31 de março de 2007

Ser Independente...

Sou estudante universitário. Tenho o mérito, o privilégio e a honra de estudar num estabelecimento de ensino superior público. Mas não posso ficar indiferente à situação da Universidade Independente. O que por lá se passa e passou envergonha-me a vários níveis:

1. Como português. O meu país olha para o futuro a medo e de soslaio. Se é este o nosso ensino universitário, se são estes os nossos “filhos doutores”, como será o futuro?

2. Como estudante. Que credibilidade terá um estudante que, no fim de uma licenciatura que, como todas, exigiu empenho e trabalho árduo, se veja rotulado nas imagens de arrombo de portas e vozes exaltadas?

3. Como aluno. Que confiança, académica e pessoal, terão os actuais alunos da Universidade Independente nos seus professores, quando os sabem acusado de corrupção, abuso de confiança ou lavagem de dinheiro?

Não gosto de escândalos. Mas não me ocorre outra palavra para definir o que sucede neste momento naquele estabelecimento de ensino. O que está a acontecer é um verdadeiro insulto a todos os estudantes e professores de Portugal. Não acredito que exista neste momento um professor português que não se sinta incomodado com a associação de colegas seus a actos de clara incompetência e ausência de ética profissional. Como estudante considero que o que está em causa é mais do que a credibilidade ou o grau académico dos meus colegas da Universidade Independente. O que está em causa é o seu esforço, o seu empenho e, sejamos justos, o dinheiro que pagaram e pagam pela sua formação.

Chegou-se ao cúmulo de existirem dois docentes para darem a mesma aula já que exist
iam dúvidas sobre quem era o reitor, o conselho científico ou os docentes de cada cadeira.

Os estudantes reagiram como se esperava: desesperadamente. O nome da instituição que frequentavam degradou-se por completo. Reitor e altos responsáveis académicos acusados e/ou detidos deixaram a universidade sem rumo, sem orientação e sem futuro. O pior que pode acontecer a qualquer universidade. O Ministério da Tecnologia e do Ensino Superior (MCTES), perante alguma inércia inicial, tomou uma decisão: ou a universidade se organiza e normaliza as aulas ou será encerrada. Finalmente alguém coloca ordem no pântano. Em situação de crise é essencial manter o sangue frio e autoridade deve ser valorizada, já que acelera as decisões importantes. Só não ficou claro o que acontecerá aos estudantes, uma situação que deveria ser claramente esclarecida.

Em nota de rodapé fica uma questão inquietante para todos mas sobretudo para os actuais estudantes da Universidade Independente. Imagine-se na pele de um gestor de Recursos Humanos de uma qualquer empresa. Precisa de uma equipe de recém-licenciados para integrar os quadros da empresa e é exigente porque a empresa onde trabalha procura qualidade no recrutamento de novos colaboradores. Perante toda esta situação, colocará, sequer, a hipótese de recrutar alguém formado na Universidade Independente?

Luís Martins

Starwood na Second Life

Todos nós gostamos de jogar RPGs (Role Playing Games). É sempre divertido, durante algumas horas e numa dimensão alternativa à vida real, sermos uma pessoa diferente daquela que somos todos os dias.

É este o conceito fundamental do Second Life, um software/jogo que nos permite recriamo-nos à nossa imagem e semelhança, com as características que desejarmos. É em todos os sentidos uma 'segunda vida', no sentido em que não é um jogo com um percurso estabelecido, mas sim uma vida em tudo igua à nossa, na dimensão virtual. O que cativa no Second Life é acima de tudo as possibilidades de social networking, mas não só. O sotfware cobre todas as funconalidades da vida real, desde personalizar a nossa personagem virtual até comprar terrenos e construir neles; frequentar eventos, praticar desportos ou participar em debates temáticos.

É uma mistura de hi5, myspace e orkut a três dimensões e em tempo real.

De que forma está isto relaconado com a gestão?

A cadeia de hotéis Starwood, como dá conta o caderno de Economia do Expresso desta semana, vai inaugurar em 2008 uma nova marca, Aloft. Numa manobra de marketing inovadora, a Starwood, que já possui a bem sucedida marca W no mesmo sector, decidiu inaugurar a marca Aloft dentro do Second Life um ano antes de abrir ao público.

Aproveitando as opções do jogo, a Starwood recriou todo o complexo hoteleiro, que podem ver exemplificado no video seguinte:



É um exemplo inovador da utilizção das comunidades já existentes na internet para promoção de um novo produto... E o melhor de tudo, não é spam.

Links:
Virtual Aloft: http://www.virtualaloft.com/
Second Life: http://secondlife.com/
Expresso: http://expresso.clix.pt/

domingo, 25 de março de 2007

OTA, Um Voo sem Sentido

A mitologia do chamado “Aeroporto da Ota” está a atingir proporções de verdadeira paranóia regional onde a realidade parece ter pouca importância.

A real necessidade da construção imediata de um novo aeroporto com capacidade para 30 milhões de passageiros nunca foi cabalmente demonstrada. Nunca foram revelados os dados concretos da evolução do tráfego aéreo, as consequências da conjectura internacional, e a capacidade de evolução da Portela.
No concreto apenas existe um chamado “Plano Director de Referência de Desenvolvimento Conceptual do Novo Aeroporto (Agosto 2002)”, os Estudos Preliminares de Impacte Ambiental de 1999, estudos estes que visavam auxiliar a decisão quanto à localização do Novo Aeroporto de Lisboa na Ota ou em Rio Frio. Não existe portanto projecto, estudo de acessibilidades rodo e ferroviárias, estudo da operacionalidade aérea do local, estudo de impacte ambiental, ou financiamento. E claro também não existe justificação plausível (o desmantelar-se o aeroporto de dentro de Lisboa não é já aceitável pois a Portela vai continuar a operar).
Importa pois justificar clara e inequivocamente o projecto do Novo Aeroporto Internacional de Lisboa, nomeadamente quanto à sua real necessidade e dimensão, o que até ao momento não aconteceu por parte do actual Executivo.

Apesar de todas estas carências e incertezas, a construção deste novo Aeroporto tem já lançamento de primeira pedra e corte de fita marcados.

O “Aeroporto da Ota” tem já um estatuto de mito. Como que um “Monstro de Loch Ness”, que ainda não existindo ou sem se perceber a sua essência, movimenta milhões, sendo-nos impossível a negação da sua existência.

João Matos

segunda-feira, 19 de março de 2007

BCP vs BPI

Este blog nasceu depois do fim da OPA da Sonae sobre a PT. Com alguma tristeza nossa, qualquer comentário que possamos fazer sobre esse assunto estará já desactualizado. No entanto, decorre ainda uma OPA que opõe o Millenium BCP e o BPI.

Antes de mais, o que é uma OPA? Para os mais desatentos OPA significa Oferta Pública de Aquisição e é uma operação através da qual uma sociedade pretende comprar uma participação ou a totalidade das acções de uma empresa cotada em Bolsa.
Estas operações acontecem porque existem duas formas de gerar ganhos em bolsa: comprando acções a um preço e vendendo-as a um preço superior ou receber os lucros na proporção da participação (se eu tenho acções que representam 2% do capital de uma empresa e essa empresa decide distribuir pelos accionistas 100.000€ de lucros, eu recebo 2.000€)

A oferta de aquisição tem que ser “pública” por duas razões. Em primeiro lugar porque as empresas cotadas em bolsa são geralmente repartidas por vários accionistas (qualquer pessoa pode ter em seu poder acções de determinada empresa). Em segundo lugar porque estas operações têm que ser analisadas por entidades que regulam a concorrência nos sectores afectados.
Por exemplo, na OPA da Sonae sobre a PT, concretizando-se a operação deixaria de existir nas telecomunicações móveis três operadores (Optimus, TMN e Vodafone) para passarem a existir apenas dois (Optimus+TMN e Vodafone), já que a TMN pertence à PT e a Optimus integra a Sonae.

Neste sentido, a Autoridade da Concorrência (AdC) foi chamada a pronunciar-se para evitar a diminuição da livre concorrência e a natural subida de preços dos produtos. Esta entidade impôs, então, algumas condições para validar a operação, de modo a garantir o bem-estar dos consumidores.

Com a OPA do BCP sobre o BPI passa-se exactamente a mesma coisa: para permitir a operação a AdC aplicou alguns “remédios”:

1) Venda das participações do BCP (com 30%) e do BPI (com 18%) na Unicre (a maior empresa portuguesa especializada na gestão e emissão de cartões de pagamento).
2) Venda de 60 sucursais do BPI
3) Venda de uma carteira de clientes empresariais (PME) de 450 milhões de euros
4) Não cobrança de comissões pela rescisão de contas para com o futuro banco

Este assunto será acompanhado com maior detalhe. A AdC deu “luz verde” à operação, seguir-se-á uma guerra em que ganha quem apresentar mais dinheiro aos accionistas. Aguardam-se novos desenvolvimentos.
Luís Martins

quarta-feira, 14 de março de 2007

A Administração Pública - Parte I

Este é o primeiro de uma série de artigos acerca da Administração Pública. Portugal encontra-se, desde há muito, na cauda da Europa e dizer mal do nosso país tornou-se já um hábito de cada português. Portugal olha-se ao espelho e não gosta do que vê. A meu ver esta falta de auto-estima gera maus resultados sucessivos que, por sua vez contribuem para novo enfraquecimento da auto-estima, alimentando um ciclo vicioso de fracas expectativas e, muitas vezes, piores resultados.

Mas Portugal está a mudar e o Estado é o exemplo desta mudança. Fundamental na redução das desigualdades, o papel do Estado transformou-se. Está em marcha aquilo a que se chama a Reforma (mudança) da Função Pública. Antigamente o Estado era, possivelmente, o único credor passivo. Ou seja, cobrava impostos sentado no sofá. Os devedores (singulares e colectivos) pagavam quando eram obrigados a pagar e os que podiam fugir (que eram muitos) arranjavam alguma forma de não pagar.

Hoje a máquina fiscal transformou-se: é feito informaticamente o cruzamento de dados, avançaram as penhoras (apreensões de bens) automáticas, o levantamento do sigilo fiscal está muito mais facilitado, está publicada na Internet a lista dos maiores devedores ao Estado e toda a informação circula a maior velocidade.

Em pouco tempo, a administração fiscal avançou vários anos. Só temos de nos sentir orgulhosos por o nosso país conseguir combater a fraude com maior eficácia. Se não, note-se: existindo pessoas ou empresas que não pagam impostos, as que os pagam terão de pagar mais (em lugar das que não pagam) porque, para o bem e para o mal, a despesa do Estado é enorme (e disto falarei noutro dia).

Existindo mais pagadores, a receita do Estado é maior, existem mais fundos para promover a igualdade social, para melhorar a qualidade dos serviços públicos e, quem sabe, para baixar os impostos e cada um pagar menos.

Pagando menos impostos, as empresas geram lucros maiores e podem remunerar melhor os seus trabalhadores, elevando a sua qualidade de vida. No longo prazo só temos a ganhar em pedir factura e pagar impostos. Portugal agradece.

Luís Martins

domingo, 11 de março de 2007

A Simples (ou não) Gestão da Mesada

Encontro aqui aquela que considero ser uma questão de elevada pertinência para o comum jovem. O direito a uma mesada tem, antes de mais, subjacente a confiança por parte dos pais/tutores para com quem a recebe, em atribuir uma determinada quantia, quantia essa que terá de ser gerida durante o mês. É ao jovem que cabe, portanto, a decisão da forma de dar uso a esse montante e assim tomar aquele que pensa ser o seu melhor caminho. Assim sendo, é de fácil percepção a grande subjectividade em que está envolta esta questão.

Início do mês... Altura em que nos encontramos "financeiramente saudáveis" por assim dizer, e é, geralmente, quando procuramos ou quando nos é mais fácil fazer algo que envolva um maior dispêndio como uma compra, um serviço a que recorramos, de modo a satisfazer uma necessidade talvez mais supérflua. Logo aqui, reside uma grande diferença entre cada um de nós: assiste-se, por um lado, aos que satisfazem inúmeras vezes estas necessidades/desejos ditos mais sobejos; e por outro, aos que o fazem pontualmente, mais moderadamente, fazendo uma selecção mais precisa daquilo que realmente lhes é necessário.

Aquando destes gastos, vão decorrendo no nosso dia-a-dia despesas em necessidades básicas como a alimentação, e outras que para nós, poderão eventualmente enquadrar-se neste mesmo lote, considerando-se aqui fundamentalmente as despesas com transportes.

Chegado o meio do mês, começamo-nos a questionar, uns mais que os outros, até que ponto podemos despender mais esse dinheiro, sem que para isso fiquemos sem nenhum para os gastos de primeira necessidade. Voltamos a identificar aqui, mais uma vez, onde diferimos: é um facto irrefutável que, enquanto que uns têm a capacidade de "parar", isto é, perceber que já se fez o dito luxo, e assim demonstrar um maior equilíbrio no percurso que se toma no desenrolar do mês; outros aparentam estar totalmente desprovidos desta capacidade e são capazes de passar o resto do mês como que a "penar", não conseguindo acompanhar o ritmo a que se propuseram ter no início do mês.

Dou assim por concluído o meu retrato daquele que penso ser, como referi no início, um tema fulcral para todos nós, jovens, talvez particularizando os dois extremos da realidade e não dando especial ênfase ao "meio termo", mas não sem antes desejar a todos uma sempre óptima e adequada gestão das vossas "disponibilidades".


Sugestão de leitura:
"A Gestão segundo Richard Branson", Des Dearlove

João Matos

A Requalificação das Urgências.

Um dos temas mais acesos nos últimos meses tem sido o da Requalificação do Serviço de Urgências em território Português, assunto sensível dada a sua gravidade e polémico dadas as suas implicações.
No contexto reformista a que este executivo já nos habituou, foi tomada, pelo Ministério da Saúde, a decisão de pôr em prática um extenso plano com vista a uma mais equilibrada e mais equitativa distribuição dos serviços de Urgência no nosso país.

Como decerto é perceptível até ao mais leigo na matéria, qualquer reforma de fundo na saúde implica o fecho de estabelecimentos obsoletos e ineficientes e a criação de novas unidades, a par da transformação de serviços já existentes, com alterações nos quadros e nas funcionalidades que lhes são atribuídos.

Nos órgãos de comunicação social foi imediatamente visível o descontentamento popular pelo fecho de determinadas unidades de saúde em diversas zonas do país, unidades essas que, provavelmente, muitos dos manifestantes nunca usaram (caso de Arcos de Valdevez, umas das mais veementes freguesias, que, no seu serviço de urgência recebe um número ínfimo de pessoas por ano.) mas que defendem como suas, atirando farpas ao Ministro da Saúde e ao Governo de Sócrates, fazendo todas aquelas acusações mundanas a que já nos habituámos.

Nenhuma reforma, por mais benéfica que seja, agrada a todos, mas a forma como ela é primariamente transmitida é de vital importância em política. E é aqui que os meios de comunicação social mais sensacionalistas fazem o seu "extra buck", vendendo a notícia da requalificação ligada à história da senhora que tem poliomielite e tem que se deslocar mais 40 quilómetros para fazer análises. Claro que toda a gente gosta de uma boa novela, e toda a gente gosta de ter alguém com quem berrar, e em Portugal, o executivo em funções é o target ideal para tais fúrias.

Claro que o direito de protesto é o mais legítimo que existe, e não me compete a mim, na minha ignorância, avaliar a qualidade e o rigor científico do estudo da Comissão Técnica de Apoio à Requalificação das Urgências (que dado o nome ridiculamente grande, tratarei em diante por CTA), muito menos a sua aplicação prática mas houve aqui uma grande falha de comunicação, que não foi, de todo, apenas culpa do sensacionalismo.

Provavelmente na ânsia de mostrar obra feita, o senhor ministro decidiu apresentar o relatório da CTA (ver link abaixo), atirando a bomba de que se teriam de fechar não sei quantos estabelecimentos sem se focar antes nas alternativas e suas vantagens. Tendo em conta que uma reforma será sempre para melhor, creio que ninguém teve acesso aos possíveis melhoramentos que daqui vão advir. Claro que só uma pessoa que come gelados com a testa julgará possível que se gastem milhões num processo que não augure qualquer tipo de evolução qualitativa. Fica então a questão... Onde está a demonstração dessa potencial evolução?

A inépcia comunicativa do sr. Ministro valeu-lhe o ter de voltar atrás com a sua palavra, assinando diversos protocolos com municípios que não gostaram muito de toda esta conversa, o que, obviamente, não lhe caiu muito bem. Depois também não ficou clara a definição de serviço de urgência, confundindo-se frequentemente com a de SAP, havendo assim muita gente a manifestar-se contra algo que nunca vai acontecer (o que me parece bastante poético). Por último, e a mais ridícula é que só há bem pouco tempo é que se definiram e publicaram os prazos definitivos (?) para a execução destes planos.

Há aqui, portanto, uma muito má definição das linhas de acção e uma péssima temporização na sua exposição, limitando-se de imediato todo um efeito positivo que esta requalificação poderia ter, se bem apresentada. Há muitas técnicas de comunicação passíveis de ser usadas numa situação destas sendo portanto incompreensível o quão amadora foi esta aproximação.

Já devia ser mais do que claro que a sensibilidade destes assuntos não permite uma abordagem a frio a novas propostas, sob o risco de estas morrerem à nascença ou ficarem para sempre marcadas negativamente, corroendo, consequentemente, o espírito empreendedor de quem, ainda que imaturamente, tem a coragem de as lançar às feras.

LINKS:
Relatório da CTA

quinta-feira, 8 de março de 2007

A nossa Missão

O "Pensar a Gestão" (thinkmanagement na sua versão mais internacional e globalizante) nasceu para pensar a Gestão que nos rodeia. No nosso dia-a-dia, cada pormenor, por mais insignificante que seja, traduz-se num acto de gestão, nosso e dos outros, de tempo e dinheiro. Todos os dias efectuamos centenas de negócios e decisões, alteramos estratégias, planeamos o futuro, fixamos prazos, motivamos colaboradores... Cada dia é, portanto, um infindável acto de gestão. Este blog tem a pretensão de o tentar compreender e, como é feito por e para estudantes da licenciatura de Gestão do ISCTE, tentará associar alguns acontecimentos da actualidade económica e política portuguesa com conceitos mais técnicos, que talvez se tornem mais compreensíveis "colados" a exemplos práticos. Deste modo, conseguiremos idealmente concretizar 3 objectivos:

1) Pensar a gestão (a que fazemos diariamente e a que é feita um pouco por toda a parte)
2) Discutir a actualidade político-económica em termos acessíveis e próximos dos jovens
3) Associar toda a discussão a termos técnicos que, assim, ganharão uma nova dimensão e tornar-se-ão mais compreensíveis e cativantes para todos.


Para cumprir estes objectivos, os vossos comentários e opiniões são fundamentais.

Contamos convosco.

O Pensar a Gestão
Thinkmanagement@gmail.com