domingo, 11 de março de 2007

A Requalificação das Urgências.

Um dos temas mais acesos nos últimos meses tem sido o da Requalificação do Serviço de Urgências em território Português, assunto sensível dada a sua gravidade e polémico dadas as suas implicações.
No contexto reformista a que este executivo já nos habituou, foi tomada, pelo Ministério da Saúde, a decisão de pôr em prática um extenso plano com vista a uma mais equilibrada e mais equitativa distribuição dos serviços de Urgência no nosso país.

Como decerto é perceptível até ao mais leigo na matéria, qualquer reforma de fundo na saúde implica o fecho de estabelecimentos obsoletos e ineficientes e a criação de novas unidades, a par da transformação de serviços já existentes, com alterações nos quadros e nas funcionalidades que lhes são atribuídos.

Nos órgãos de comunicação social foi imediatamente visível o descontentamento popular pelo fecho de determinadas unidades de saúde em diversas zonas do país, unidades essas que, provavelmente, muitos dos manifestantes nunca usaram (caso de Arcos de Valdevez, umas das mais veementes freguesias, que, no seu serviço de urgência recebe um número ínfimo de pessoas por ano.) mas que defendem como suas, atirando farpas ao Ministro da Saúde e ao Governo de Sócrates, fazendo todas aquelas acusações mundanas a que já nos habituámos.

Nenhuma reforma, por mais benéfica que seja, agrada a todos, mas a forma como ela é primariamente transmitida é de vital importância em política. E é aqui que os meios de comunicação social mais sensacionalistas fazem o seu "extra buck", vendendo a notícia da requalificação ligada à história da senhora que tem poliomielite e tem que se deslocar mais 40 quilómetros para fazer análises. Claro que toda a gente gosta de uma boa novela, e toda a gente gosta de ter alguém com quem berrar, e em Portugal, o executivo em funções é o target ideal para tais fúrias.

Claro que o direito de protesto é o mais legítimo que existe, e não me compete a mim, na minha ignorância, avaliar a qualidade e o rigor científico do estudo da Comissão Técnica de Apoio à Requalificação das Urgências (que dado o nome ridiculamente grande, tratarei em diante por CTA), muito menos a sua aplicação prática mas houve aqui uma grande falha de comunicação, que não foi, de todo, apenas culpa do sensacionalismo.

Provavelmente na ânsia de mostrar obra feita, o senhor ministro decidiu apresentar o relatório da CTA (ver link abaixo), atirando a bomba de que se teriam de fechar não sei quantos estabelecimentos sem se focar antes nas alternativas e suas vantagens. Tendo em conta que uma reforma será sempre para melhor, creio que ninguém teve acesso aos possíveis melhoramentos que daqui vão advir. Claro que só uma pessoa que come gelados com a testa julgará possível que se gastem milhões num processo que não augure qualquer tipo de evolução qualitativa. Fica então a questão... Onde está a demonstração dessa potencial evolução?

A inépcia comunicativa do sr. Ministro valeu-lhe o ter de voltar atrás com a sua palavra, assinando diversos protocolos com municípios que não gostaram muito de toda esta conversa, o que, obviamente, não lhe caiu muito bem. Depois também não ficou clara a definição de serviço de urgência, confundindo-se frequentemente com a de SAP, havendo assim muita gente a manifestar-se contra algo que nunca vai acontecer (o que me parece bastante poético). Por último, e a mais ridícula é que só há bem pouco tempo é que se definiram e publicaram os prazos definitivos (?) para a execução destes planos.

Há aqui, portanto, uma muito má definição das linhas de acção e uma péssima temporização na sua exposição, limitando-se de imediato todo um efeito positivo que esta requalificação poderia ter, se bem apresentada. Há muitas técnicas de comunicação passíveis de ser usadas numa situação destas sendo portanto incompreensível o quão amadora foi esta aproximação.

Já devia ser mais do que claro que a sensibilidade destes assuntos não permite uma abordagem a frio a novas propostas, sob o risco de estas morrerem à nascença ou ficarem para sempre marcadas negativamente, corroendo, consequentemente, o espírito empreendedor de quem, ainda que imaturamente, tem a coragem de as lançar às feras.

LINKS:
Relatório da CTA

1 comentário:

Luís Martins disse...

São assuntos difíceis de tratar. Como teremos oportunidade de observar em várias ocasiões, nos tempos que correm e, dadas as limitações orçamentais, o dilema entre a racionalidade económica e a prestação de serviços públicos divide o país. No entanto, existe uma situação que não pode deixar nenhuma das facções indiferentes: a despesa pública é assutadoramente exagerada para a dimensão de Portugal. Isto implica ajustamentos nos serviços e na produtividade dos funcionários públicos. Para que Portugal funcione.