quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Millennium BPI, uma realidade ou ficção?


Semanas depois de o BPI (Banco Português de Investimento) ter lançado uma proposta de fusão com o BCP (Banco Comercial Português), a questão paira ainda no ar.

Antes de mais importa explicar que não estamos a falar de uma OPA mas sim de um processo de fusão, um projecto do BPI que envolve uma proposta de troca de acções e não de aquisição.

Se o BCP aceitar esta proposta, vai nascer um novo banco em Portugal, o Millenium BPI. Será, porventura, o maior banco nacional e o terceiro maior da Península Ibérica, a seguir ao Santander e ao BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria), com activos no valor de 130 mil milhões de euros, 1.500 balcões e 18.000 trabalhadores.
Ao avançar com uma proposta desta natureza, o BPI quebra o impasse que se vive no BCP há meses e que sofreu nas últimas semanas um agravamento com a divulgação de negócios polémicos envolvendo a instituição e membros dos actuais órgãos sociais. E contribuiu para focar a discussão num projecto de futuro. O presidente do BPI, Fernando Ulrich, evidenciou querer criar uma plataforma nova, com intervenção na Europa, África Lusófona, e dispondo de accionistas internacionais fortes, como a Eureko, La Caixa, Itaú, Allianz, e contando ainda com um grupo de investidores portugueses estratégicos, designadamente a Teixeira Duarte e a Caixa Geral de Depósitos. Cabe agora ao BCP a tomada de uma decisão final. Para o processo seguir em frente, é absolutamente essencial que os dirigentes dos dois bancos cheguem a acordo e que 75% do capital do BCP aceite a proposta. Mas há mais. A proposta do BPI tem como base a entrega de 0,5 acções da instituição que resulta da fusão por cada uma acção do BCP, ou seja, um indivíduo que tiver 5.000 acções do BCP ficará com 2.500 acções do Millenium BPI, mas este é um rácio de troca que poderá vir a ser alterado.

Seria tudo muito simples, mas obviamente que o projecto de fusão terá de obter luz verde da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários), já que ambas as sociedades estão cotadas na Bolsa, e esperar por um prenúncio por parte do Banco de Portugal, da Autoridade da Concorrência e ainda dos accionistas.
Havendo lugar à concretização deste processo de fusão, o BPI afirma não antever razões para o encerramento de balcões, a não ser pontualmente, porque acredita que haverá um aumento de clientes e de receitas. No que concerne aos trabalhadores, não avança com previsões mas admite não haver despedimentos na área comercial.

A sensação que nos é dada, é a de que tudo deverá ficar neutral. No entanto, a médio-longo prazo esta operação não se concretiza sem se exigir mudanças, e esta é uma questão que releva para a preocupação de todos os clientes; Depósitos, Transacções, Empréstimos, Cofres, Câmbio, o que esperar das condições e preços de todos estes serviços que virão a ser praticados por esta nova instituição? Este é um caminho ainda por explorar…

sábado, 10 de novembro de 2007

O que é o Tratado de Lisboa?


A pergunta assombra muitos de nós, comunidade académica para quem as burocracias da UE é aborrecida confusa. A resposta seguirá dentro de momentos.

Primeiro que tudo, este tratado deve ser entendido numa perspectiva macro e não exactamente na sua essência e conteúdo. O Tratado de Lisboa reconcilia a Europa consigo mesma, depois do "Não" no referendo à Constituição Europeia da França e da Holanda.

As decisões tomadas são, uma vez mais, de carácter burocrático de funcionamento interno da UE. Mas o consenso, em si, é mais importante do que tudo o resto. No entanto, aqui ficam as principais medidas:


1. Uma decisão será adoptana no Conselho Europeu se cumprir dois critérios: o apoio de 55% dos estados-membros (15 em 27) em representação de pelo menos 65% da população total da UE

2. Em vez da unanimidade tradicional, as decisões passam a ser tomadas por maioria qualificada
em cerca de 40 áreas, sobretudo, em assuntos de carácter policial, de imigração e de relações externas.

3. Conselho e Parlamento Europeu devem estar de acordo na maior parte dos processos legislativos.

4. A sactuais presidências semestrais da UE serão modificadas de acordo com uma decisão a tomar pelo Conselho , que deverá prever equipas de três Estados-membros por um período de 18 meses, as quais assegurarão entre elas a presidência do Conselho Assuntos Gerais e dos Conselhos de Ministros sectoriais da UE (Economia e Finanças, Agricultura, Justiçã e Assutnos Internos, Ambiente, entre outros).

5. A partir de 2009, haverá um presidente do Conselho Europeu eleito por 2.5 anos, pelos seus membros (chefes de Estado ou de Governo da UE= mas não exercerá funções executivas.

6. As reuniões do Conselho de Relações Externas (ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27) passam a ser presidadas pelo Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança (novo cargo)

7. O Parlamento Euoropeu vê diminuído o número total de membros de 785 para 751 e reforçado o seu papel, intervindo mais na tomada de decisões comuns (juntamente com o Conselho Europeu).

8. A Comissão Europeia terá, a partir de 2014 um número de comissário igual a 2/3 do número de Estados-membros, em vez do actual sistema onde cada país tem o seu comissário.

9. Os Estados-membros passam a designar um comissário para Bruxelas com base numa "rotação igualitária", isto é, cada parceiro ficará fora da Comissão uma vez em cada três mandatos de cinco anos.

Como podemos ver, as decisões são de carácter meramente administrativo mas respondem à nova realidade da UE a 27. Agilizam o sistema de tomada de decisões e cumprem os objectivos de mais democracia, maior transparência, maior afirmação externa e melhor funcionamento interno. Sendo conseguido durante a presidência portuguesa da UE, este acordo reafirma o papel de Portugal como negociador e conciliador de interesses divergentes. A diplomacia portuguesa está, portanto, de parabéns.

O novo acordo será oficialmente assinado a 13 de Novembro e rectificado por todos os Estados-membros até à Primavera de 2009. Ficará conhecido como o Tratado de Lisboa.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Mourinho

Mourinho sai do Chelsea. Mas fica. Tal como ficou no FC Porto. Porque permanecem as conquistas. No FC Porto um jovem treinador adjunto recentemente promovido a principal ousa dizer que será campeão e ganha tudo em dois anos: dois campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal, uma Supertaça, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões. Dando uma visibilidade ao futebol portugês de que este já se tinha esquecido. O próprio papel de treinador foi reformulado. Deixou de ser apenas o que recebe as culpas das derrotas. O treinador é o visionário dos triunfos, o estratega das conquistas.

Vai para Inglaterra. Segundo a imprensa local, não teria hipótese numa liga competitiva e com os níveis de pressão a que estão sujeitos os seus intervenientes. O clube não é de topo. Nada que o assuste. Com Mourinho não existem estrelas no grupo. A estrela é o grupo. O grupo deve funcionar harmoniosamente sob o comando do líder. Ele tem o conhecimento técnico e a capacidade para motivar todos para o mesmo objectivo: vencer.

No campo da motivação mourinho joga fora e em casa.

Em casa porque une o seu grupo de maneira a que, mais do que jogar para vencer o jogo, a equipa está em campo para se vencer a si própria, para ultrapassar os seus limites e, acima de tudo, para provar a si mesma que é a melhor.

Joga fora porque a motivação dos seus jogadores é, também, a intimidação dos adversários. O jogo começa na conferência de imprensa que o antecede e só termina na entrevista posterior. Os famosos "mind games" são, também eles, uma técnica de liderança. Porque a melhor defesa é o ataque. Há quem pense que a sua atitude é um pouco pretensiosa ou arrogante. Mas não é. A diferença entre auto-confiança e arrogância é que a auto-confiança é realista e tem conteúdo e a arrogância não resiste ao primeiro confronto. Assumir que, mais do que querer ganhar, se vai ganhar de facto, é deixar dois recados: por um lado a concorrência não terá qualquer hipótese, por outro, o líder confia no grupo e isso só sucederá se o grupo se mantiver coeso e forte e for, realmente, uma equipa. Uma equipa especial.

sábado, 30 de junho de 2007

Gestão pura

O dia-a-dia é um permanente acto de gestão. Vejamos um pequeno exemplo disso mesmo.

Um Administrador recebeu um convite para assistir a um concerto com a Sinfonia Incompleta de Schubert; como esteve impossibilitado de comparecer, deu o convite ao seu Gestor mais aplicado.

Na manhã seguinte, quando o Administrador lhe perguntou se tinha gostado do concerto, ao invés de comentários sobre o que ouvira, recebeu o seguinte relatório.

CIRCULAR INTERNA Nº. 13/2003
De: Gestor de Organização, Sistemas e Métodos
Para: Direcção
Ref.: Sinfonia Incompleta

1 - Por um período considerável de tempo, os músicos com o oboé, não tinham nada para fazer. O seu número deveria ser reduzido e o seu trabalho redistribuido pelos restantes membros da orquestra, evitando-se assim esses picos de inatividade;

2 - Todos os violinos da primeira secção, doze ao todo, tocavam notas idênticas. Isso é uma duplicação desnecessária de esforços e o número de violinos nessa secção deveria ser drasticamente reduzido. Se for necessário um volume de som mais elevado, isso pode ser obtido através do uso de um amplificador;

3 - Muito esforço foi dispendido ao tocarem semitons. Isso é um preciosismo desnecessário e seria recomendável que as notas fossem executadas no tom mais próximo. Se isso fosse feito, poder-se-iam dispensar os profissionais e utilizar estagiários;

4 - Não há utilidade prática em repetir com os metais as passagens já tocadas pelas cordas. Se toda esta redundância fosse eliminada, o concerto poderia ser reduzido de duas horas para apenas vinte minutos;

5 - Enfim, resumindo as observações dos pontos anteriores, podemos concluir que se Schubert tivesse dado um pouco de atenção a estes pontos, talvez tivesse tido tempo para acabar a sua sinfonia incompleta.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Universidade de Aveiro no Second Life

Embora o meu propósito neste blog não seja apenas falar do Second Life, plataforma que já expliquei no meu último post, a verdade é que o acaso proporcionou que mais uma vez aborde o leque de opções que este "jogo da vida real" abre no nosso dia-a-dia.

Segundo uma notícia da revista Exame, parece que a incursão no Second Life não se limita a empresas que desejam promover os seus produtos ou a políticos que desejam alargar a sua campanha ao mundo virtual. Agora, a construção de edifícios, a concretização de conferências e seminários e muito mais alarga-se também às Universidades de todo o mundo: mais de 70 já têm um clone seu no Second Life, à disposição de qualquer um, abertas 24 horas por dia.

Em Portugal, a pioneira é a Universidade de Aveiro. O projecto está a ser desenvolvido numa ilha do Second Life que é dedicada a projectos educativos, contribuindo para que cada vez menos plataformas como esta deixem de ser consideradas com meras fontes de vício e passem a ter fins verdadeiramente pedagógicos.

Uma vez que no meu último post não tive oportunidade de explorar em termos conceptuais o alcance da presença de uma entidade no Second Life, fá-lo-ei agora.

Antes de mais, uma grande vantagem do Second Life é o seu baixo custo. Uma presença no Second Life está ao alcance de qualquer utilizador com acesso a um computador com internet, esteja em que parte do mundo estiver. Um estudante em França pode escolher que faculdade frequentar se quiser vir estudar para Portugal visitando a sua imagem virtual no Second Life. Pode assistir às conferências lá organizdas, pode passear pelo edifício (e este pode estar representado com maior ou menor fidelidade ao edifício real) e conhecer estudantes verdadeiros que por lá andem, envolvidos nas actividades virtuais da universidade.

Dificilmente uma campanha publicitária ou um website garante o mesmo.

Estar no Second Life é também um grande passo em direcção à internacionalização. É estar definitivamente presente na comunidade global, ultrapassando o contexto geográfico/económico/social ao partilhar o mesmo mundo/espaço que as suas congéneres internacionais: podemos ter Harvard ao lado da Universiade de Aveiro ou o MIT ao lado do ISCTE. Relembro que o utilizadores (mercado-alvo) facilmente acedem tanto a uma como a oura.

O Second Life promove, assim, o princípio do marketing por experimentação (com certeza que deve haver um termo técnico aplicável que desconheço neste momento), que permite ao utilizador/cliente não só experimentar como viver o produto antes de optar.

Por último, não posso deixar de comentar como uma fantástica vantagem do desenvolvimnto deste tipo de projectos numa universidade a injecção de dinâmica e empreendorismo que representam na vida académica da instituição. Representa tudo aquilo que uma universidade deve ter: cooperação entre professores e alunos, cooperação entre alunos dos vários cursos e uma oportunidade única de aplicação na prática de todos os conhecimentos que vamos adquirindo ao longo do curso.

Links externos:

Notícia da Universidade de Aveiro
Lista de Negócios e Organizações no Second Life
Site do Second Life

Joana Nicolau

quarta-feira, 9 de maio de 2007

O Líder Madeirense

Na última semana Alberto João Jardim venceu, mais uma vez, na Madeira. A eleição não deixou margem para dúvidas. O líder incontestado da região autónoma ganhou com uma larga margem de avanço sobre os seus adversários. O estilo arrogante e provocador não agrada a todos. Aliás, sejamos francos, às vezes incomoda.

Jardim é um líder. As declarações bombásticas personificam uma atitude que lhe trás votos. A cultura da “madeira contra o mundo” e dos “bastardos neo-colonialistas de Lisboa” personifica uma postura de rebeldia muito própria que agrada ao povo madeirense. As pessoas não querem ser esquecidas e, por isso, defendem a sua terra com unhas e dentes.

A isto acrescem os resultados. A Ilha que, com outro governo, seria menos rica, menos desenvolvida e menos importante para Portugal (basta lembrar o caso dos Açores) melhorou, ao longo dos anos, o seu nível de desenvolvimento. Os esforços de Jardim têm, de facto, dado frutos. Além do estilo, as pessoas olham à obra feita.

Justamente na projecção da sua obra, Jardim é mestre. Com uma relação de amor-ódio com a imprensa, o líder sabe projectar o que de bom vai acontecendo na sua ilha. Nas campanhas eleitorais desdobra-se em inaugurações e comícios e ataca, permanentemente, os obscuros interesses do Governo central que, nas suas palavras, se prepara para tomar de assalto a madeira e os madeirenses. De referir, aliás, que estas eleições foram uma resposta aos cortes no orçamento da região autónoma, impostos pelo governo de Sócrates. Descontente com a nova lei das finanças regionais, Jardim demitiu-se alegando que não tinha condições para exercer a sua função. Candidatou-se novamente ao cargo e, como vimos, venceu.

A pergunta parece óbvia: se não tem condições para exercer a função, porque se candidata novamente? Parece existir alguma contradição no seu comportamento, mas esta é uma jogada política brilhante. Jardim já percebeu que dificilmente terá as mesmas liberdades orçamentais de outros tempos. Assim, deixar passar esta lei sem provocar alguma instabilidade no continente seria perder credibilidade junto do seu povo. A sua demissão não serviu para protestar contra a nova lei. A sua demissão serviu, isso sim, para mostrar aos madeirenses que, mesmo na derrota, ele não desiste de os defender e, por isso, podem confiar nele. Está lá, na linha da frente e luta, como sempre lutou, por eles. Pode perder, vai perder… mas não vai perder sem lutar.

terça-feira, 1 de maio de 2007