sábado, 30 de junho de 2007

Gestão pura

O dia-a-dia é um permanente acto de gestão. Vejamos um pequeno exemplo disso mesmo.

Um Administrador recebeu um convite para assistir a um concerto com a Sinfonia Incompleta de Schubert; como esteve impossibilitado de comparecer, deu o convite ao seu Gestor mais aplicado.

Na manhã seguinte, quando o Administrador lhe perguntou se tinha gostado do concerto, ao invés de comentários sobre o que ouvira, recebeu o seguinte relatório.

CIRCULAR INTERNA Nº. 13/2003
De: Gestor de Organização, Sistemas e Métodos
Para: Direcção
Ref.: Sinfonia Incompleta

1 - Por um período considerável de tempo, os músicos com o oboé, não tinham nada para fazer. O seu número deveria ser reduzido e o seu trabalho redistribuido pelos restantes membros da orquestra, evitando-se assim esses picos de inatividade;

2 - Todos os violinos da primeira secção, doze ao todo, tocavam notas idênticas. Isso é uma duplicação desnecessária de esforços e o número de violinos nessa secção deveria ser drasticamente reduzido. Se for necessário um volume de som mais elevado, isso pode ser obtido através do uso de um amplificador;

3 - Muito esforço foi dispendido ao tocarem semitons. Isso é um preciosismo desnecessário e seria recomendável que as notas fossem executadas no tom mais próximo. Se isso fosse feito, poder-se-iam dispensar os profissionais e utilizar estagiários;

4 - Não há utilidade prática em repetir com os metais as passagens já tocadas pelas cordas. Se toda esta redundância fosse eliminada, o concerto poderia ser reduzido de duas horas para apenas vinte minutos;

5 - Enfim, resumindo as observações dos pontos anteriores, podemos concluir que se Schubert tivesse dado um pouco de atenção a estes pontos, talvez tivesse tido tempo para acabar a sua sinfonia incompleta.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Universidade de Aveiro no Second Life

Embora o meu propósito neste blog não seja apenas falar do Second Life, plataforma que já expliquei no meu último post, a verdade é que o acaso proporcionou que mais uma vez aborde o leque de opções que este "jogo da vida real" abre no nosso dia-a-dia.

Segundo uma notícia da revista Exame, parece que a incursão no Second Life não se limita a empresas que desejam promover os seus produtos ou a políticos que desejam alargar a sua campanha ao mundo virtual. Agora, a construção de edifícios, a concretização de conferências e seminários e muito mais alarga-se também às Universidades de todo o mundo: mais de 70 já têm um clone seu no Second Life, à disposição de qualquer um, abertas 24 horas por dia.

Em Portugal, a pioneira é a Universidade de Aveiro. O projecto está a ser desenvolvido numa ilha do Second Life que é dedicada a projectos educativos, contribuindo para que cada vez menos plataformas como esta deixem de ser consideradas com meras fontes de vício e passem a ter fins verdadeiramente pedagógicos.

Uma vez que no meu último post não tive oportunidade de explorar em termos conceptuais o alcance da presença de uma entidade no Second Life, fá-lo-ei agora.

Antes de mais, uma grande vantagem do Second Life é o seu baixo custo. Uma presença no Second Life está ao alcance de qualquer utilizador com acesso a um computador com internet, esteja em que parte do mundo estiver. Um estudante em França pode escolher que faculdade frequentar se quiser vir estudar para Portugal visitando a sua imagem virtual no Second Life. Pode assistir às conferências lá organizdas, pode passear pelo edifício (e este pode estar representado com maior ou menor fidelidade ao edifício real) e conhecer estudantes verdadeiros que por lá andem, envolvidos nas actividades virtuais da universidade.

Dificilmente uma campanha publicitária ou um website garante o mesmo.

Estar no Second Life é também um grande passo em direcção à internacionalização. É estar definitivamente presente na comunidade global, ultrapassando o contexto geográfico/económico/social ao partilhar o mesmo mundo/espaço que as suas congéneres internacionais: podemos ter Harvard ao lado da Universiade de Aveiro ou o MIT ao lado do ISCTE. Relembro que o utilizadores (mercado-alvo) facilmente acedem tanto a uma como a oura.

O Second Life promove, assim, o princípio do marketing por experimentação (com certeza que deve haver um termo técnico aplicável que desconheço neste momento), que permite ao utilizador/cliente não só experimentar como viver o produto antes de optar.

Por último, não posso deixar de comentar como uma fantástica vantagem do desenvolvimnto deste tipo de projectos numa universidade a injecção de dinâmica e empreendorismo que representam na vida académica da instituição. Representa tudo aquilo que uma universidade deve ter: cooperação entre professores e alunos, cooperação entre alunos dos vários cursos e uma oportunidade única de aplicação na prática de todos os conhecimentos que vamos adquirindo ao longo do curso.

Links externos:

Notícia da Universidade de Aveiro
Lista de Negócios e Organizações no Second Life
Site do Second Life

Joana Nicolau

quarta-feira, 9 de maio de 2007

O Líder Madeirense

Na última semana Alberto João Jardim venceu, mais uma vez, na Madeira. A eleição não deixou margem para dúvidas. O líder incontestado da região autónoma ganhou com uma larga margem de avanço sobre os seus adversários. O estilo arrogante e provocador não agrada a todos. Aliás, sejamos francos, às vezes incomoda.

Jardim é um líder. As declarações bombásticas personificam uma atitude que lhe trás votos. A cultura da “madeira contra o mundo” e dos “bastardos neo-colonialistas de Lisboa” personifica uma postura de rebeldia muito própria que agrada ao povo madeirense. As pessoas não querem ser esquecidas e, por isso, defendem a sua terra com unhas e dentes.

A isto acrescem os resultados. A Ilha que, com outro governo, seria menos rica, menos desenvolvida e menos importante para Portugal (basta lembrar o caso dos Açores) melhorou, ao longo dos anos, o seu nível de desenvolvimento. Os esforços de Jardim têm, de facto, dado frutos. Além do estilo, as pessoas olham à obra feita.

Justamente na projecção da sua obra, Jardim é mestre. Com uma relação de amor-ódio com a imprensa, o líder sabe projectar o que de bom vai acontecendo na sua ilha. Nas campanhas eleitorais desdobra-se em inaugurações e comícios e ataca, permanentemente, os obscuros interesses do Governo central que, nas suas palavras, se prepara para tomar de assalto a madeira e os madeirenses. De referir, aliás, que estas eleições foram uma resposta aos cortes no orçamento da região autónoma, impostos pelo governo de Sócrates. Descontente com a nova lei das finanças regionais, Jardim demitiu-se alegando que não tinha condições para exercer a sua função. Candidatou-se novamente ao cargo e, como vimos, venceu.

A pergunta parece óbvia: se não tem condições para exercer a função, porque se candidata novamente? Parece existir alguma contradição no seu comportamento, mas esta é uma jogada política brilhante. Jardim já percebeu que dificilmente terá as mesmas liberdades orçamentais de outros tempos. Assim, deixar passar esta lei sem provocar alguma instabilidade no continente seria perder credibilidade junto do seu povo. A sua demissão não serviu para protestar contra a nova lei. A sua demissão serviu, isso sim, para mostrar aos madeirenses que, mesmo na derrota, ele não desiste de os defender e, por isso, podem confiar nele. Está lá, na linha da frente e luta, como sempre lutou, por eles. Pode perder, vai perder… mas não vai perder sem lutar.

terça-feira, 1 de maio de 2007

segunda-feira, 30 de abril de 2007

O Desafio de Pina Moura

Joaquim Pina Moura afirmou há dias que foi convidado para presidente do conselho de Administração da Media Capital porque a espanhola Prisa lhe reconheceu méritos como gestor profissional.

Há quem diga que não há nada na nomeação de Pina Moura, pelo que se conhece um economista competente, que impeça a Media Capital de honrar a lei. Pela mesma linha se diz também que não consta que a Impresa, que detém a SIC, Visão e Expresso, do militante número 1 do PSD, Francisco Pinto Balsemão (co-fundador do PSD), seja acusada de fazer um jornalismo similar ao “Povo Livre”, do PSD.
Porém, sejamos sensatos.

A escolha de Pina Moura para presidir a Media Capital, a convite da Prisa, é uma notícia que preocupa. O ex-ministro do antigo Governo de António Guterres, que pouco depois de abandonar o Executivo, saltou para a liderança de uma das empresas que mais favoreceu enquanto governante (a Iberdrola), vai agora tomar as rédeas da televisão mais vista do País. Tenhamos medo.

O seu desplante é tal que admitiu ao Expresso que “o convite tem um pressuposto ideológico”. Tal afirmação não é surpresa já que competências técnicas para gerir uma empresa de media não são conhecidas a Pina Moura. Ele próprio admite conhecer mal o canal que se prepara para liderar.

Poder-se-ia supor então que a nomeação de Pina Moura se devia à sua mais fina inteligência. Tal até seria aceitável não fosse novamente a entrevista ao Expresso: “ninguém razoavelmente inteligente admitiria a existência de um “pressuposto ideológico”, coisa honesta mas algo burra. Falando-se em “pressuposto ideológico”, das duas uma, ou a Prisa tem em mente levar o mais ecléctico socialismo para a estação (seguindo uma política de distribuição dos lucros pelos trabalhadores e de não exploração dos estagiários); ou então quer pregar um sermão à redacção com as mais belas ideologias do Governo Socialista como que um Padre António Vieira com um diploma pouco credível emitido por uma universidade com não mais credibilidade.
Espera-se o resultado…
João Matos

domingo, 22 de abril de 2007

Administração Pública - Parte II

Imaginem-se gestores de uma qualquer empresa. Esta empresa é constituída apenas por dois departamentos com funções semelhantes.

Departamento A:
Bom desempenho
Pessoas a mais

Departamento B:
Mau desempenho
Pessoas a menos e pouco preparadas

A solução parece fácil: colocar as pessoas a mais do departamento A no departamento B. Se as pessoas estão a mais no departamento A é porque o seu desempenho não será afectado por elas, e, portanto, devem ser transferidas para um local onde acrescentem valor à empresa.

Outra questão se coloca: e se mesmo após esta mudança de departamento, o número de pessoas continuar a ser demasiado elevado para a empresa? A empresa só tem dois departamentos e nenhum deles precisa daquelas pessoas, pessoas que revelaram ser improdutivas e que estão na empresa apenas porque sempre lá estiveram. Mais uma vez a solução parece simples: despedir ou reformar essas pessoas.

Isto é exactamente o que se passa na Função Pública. Durante anos, a política de contratação de funcionários era decidida por leis que determinavam que, de tempos a tempos, deviam ser contratados funcionários novos para determinado Ministério. Isto fez acumular funcionários e decair a produtividade.

Sabemos que a produtividade marginal (a produtividade extra de cada funcionário) é decrescente e, a partir de certo ponto, prejudica mesmo a actividade de qualquer empresa.

Por exemplo, um serviço público necessita de 30 funcionários e tem apenas 10. A sua produtividade é, obviamente, muito reduzida. À medida que se contratam mais funcionários a sua produtividade vai aumentando, atingindo o seu ponto óptimo aos 30 funcionários. A partir daí, a contratação de funcionários começa a ser desnecessária e prejudicial.


Se o serviço só necessita de 30, porquê ter 31? E, uma vez contratado o 31.º funcionário, o que fazer com ele? As soluções simples de despedimento ou transferência, não são assim tão simples na Função Pública. O processo de despedimento é bastante complexo e moroso e, é preciso não esquecer, estamos a lidar com pessoas que necessitam do seu posto de trabalho para sobreviverem.
Esta é uma das explicações para o mau funcionamento de muitos serviços públicos e dá-nos uma lição importante: a gestão de recursos humanos (tantas vezes renegada para segundo plano nas organizações) tem de ser feita com rigor e critério, pois decide, a longo prazo, o futuro da organização e das pessoas que dela dependem.

Luís Martins

domingo, 8 de abril de 2007

A Consolidação Orçamental e a Utopia Fiscal.

Há cerca de um mês, tivemos uma boa notícia no que respeita ao comportamento das nossas contas públicas. O nosso défice de estimação, que havia nos últimos anos crescido o suficiente para a mãe Europa nos colocar no cantinho dos mal comportados, deu sinais de estar a regredir acima do projectado para este ano. Pois é, as ambições são agora mais altas estando o objectivo para este ano nos 3,3%, menos 4 pontos percentuais do que o previsto. Desta forma, com um pouco de sorte, deixaremos, ainda este ano, de levar com o discurso profilático do costume.

Claro que, dado que são boas notícias, facilmente são esquecidas ou então são maquilhadas por alguém com uma patologia repressiva, por forma a parecerem absolutamente banais.

No contexto desta diminuição, um senhor bastante baixo veio para a praça pública exigir uma diminuição imediata dos principais impostos, nomeadamente do IVA e do IRC, como reacção natural a um maior equilíbrio nas contas. Tudo muito agradável, muito prazenteiro para os ouvidos do cidadão comum, mas definitivamente não muito sensato.

Os resultados são bons, mas não se pode fraquejar agora. Ainda estamos longe de um comportamento óptimo. Se é certo que uma descida das taxas de IVA e IRC nos tornaria mais competitivos na atracção de investimento estrangeiro, é ainda mais certo que o nível de despesa pública ainda não permite tais devaneios. Seria um tiro no pé e uma anulação completa dos bons resultados e bom trabalho que se tem vindo a desenvolver, e se formos a ser realistas, uma eventual descida das taxas de IRC nunca nos tornaria competitivos face a alguns países que, efectivamente, as mantém muito reduzidas, como a Irlanda.
Para além do mais, países com taxas de IRC muito altas, tal como a Espanha (35%), mantêm níveis de competitividade altos com uma muito maior nível de tributação, pelo que o caminho não será obrigatoriamente a diminuição dos impostos.

O rumo a tomar deve ser o de continuar com a retenção orçamental, não caindo em facilitismos e usando os bons resultados como base motivacional para um cada vez melhor comportamento das finanças públicas, para o qual contribuirá, nomeadamente, uma aceleração no processo de reforma da função pública.